as fases são consecutivas. por isso nunca gostei da expressão "isso é só uma fase". a seguir vem logo outra, depois outra e acabam por formar o todo que sou eu. e esta fase agora é estranha. tenho muita esperança no futuro, não porque me pareça bom (que parece!) mas porque o passado parece mau. por isso com a esperança vem o medo. e a fragilidade e o exagero de emoções e o meu corpo e cabeça a pedirem coisas que não estão cá e a falta, o vazio. já não domina a ambição desmedida mas a vontade da calma, do preenchimento, do encontro comigo, do encontro com alguém (quem?). voltaram as paixões, as antigas, as que nunca foram, as que acabaram, os tormentos de que não voltem, a procurar conforto nas que me projectaram para as alturas. apaixono-me constantemente pela família, pelos amigos, por todas as miúdas que me passam ao lado, pelo que queria ser. um dador de sangue constante. tonto, ilúcido, a perder força. constante. à espera. à procura. à descoberta. mas sem o "à aventura". arrumando o fascínio, a novidade, o espanto, a surpresa, o deslumbre, os momentos-que-mudam-a-vida na gaveta da rotina, bem dobrados e com vincos. não deixei de sonhar, os sonhos é que deixaram de ter lugar no futuro. o futuro é agora mas parece o presente. o futuro chegou e nem dei por ele. veio de mansinho e apanhou-me logo agora que eu tinha a casa desarrumada. sempre tive tudo preparado para ele, mas ele nunca mais chegava e fui deixando de limpar pó, de arrumar a roupa do dia, de lavar a loiça. e agora já nem sei como é que isso se faz. e agora já nem tenho tempo para fazer. e ele entrou em casa e não está gostou do que viu. ou fujo agora ou vai-se ele embora. não é muito educado, mas é a única hipótese. única é dramático e desesperado. única é dramático e desesperado? acho que a criatividade também tem as suas fases. e nem sempre são em português.